domingo, 8 de outubro de 2017

GENTES DE MELGAÇO
 
(microbiografias)
 
Por Joaquim A. Rocha





DOMINGUES, Abílio. Filho de José Bento Domingues e de Ana Maria Rodrigues. Neto paterno de João Manuel Domingues e de Maria Rodrigues; neto materno de Manuel José Rodrigues e de Ana Rosa Esteves. Nasceu em Castro Laboreiro a 22/6/1900. // Ainda criança foi viver para o lugar da Orada, SMP, com os pais, por terem comprado ali uma quinta. // No verão de 1916, ele e sua irmã, Maria de Jesus, fizeram exame de admissão na Escola Normal de Viana do Castelo, ficando distintos. // Em Julho de 1919 concluiu o Curso do Magistério com 16 valores (Jornal de Melgaço n.º 1256, de 27/7/1919). Em Outubro desse ano foi colocado em Parada do Monte (JM 1273, de 7/12/1919). No ano letivo seguinte foi nomeado professor interino para Castro Laboreiro (JM 1308, de 17/10/1920). Nesta freguesia é convidado pela família Alves “Carabel” para ser redator do jornal «A Neve». A notícia é dada pelo “Jornal de Melgaço” n.º 1310, de 7/11/1920: «Consta-nos que vai aparecer um novo jornal aqui no concelho…» // No Jornal de Melgaço n.º 1316, de 31/12/1920, por ironia do destino o último número deste jornal, dá-se a boa notícia: «para o nosso prezado colega Abílio Domingues, actualmente na escola de Castro Laboreiro, e redactor de “A Neve”, foi pedida por seu padrinho – o reverendo abade desta Vila – em casamento, a mão da menina Leopoldina Cândida (*), prendada sobrinha do nosso amigo Sr. José Maria Moreira, da Quinta das Amoras. Não podia o nosso colega fazer melhor escolha, atentas as qualidades da noiva, que são a garantia da felicidade no lar doméstico…» // Casou a 8/5/1922 com a dita menina, filha de Manuel Maria Afonso e de Clementina Rosa da Lama. // Em 1933 passou a ser em Melgaço o delegado do inspetor escolar de Viana do Castelo, em virtude do professor António José de Barros ter sido transferido para uma escola de Braga (Notícias de Melgaço n.º 211, de 15/10/1933); nesse ano lecionava em Chaviães, mas em 1936 transferiram-no para a sede do concelho (NM 415). // Foi 2.º comandante dos Bombeiros Voluntários de Melgaço, fundador e presidente do Grémio da Lavoura, e vereador da Câmara Municipal. // O professor e poeta, Ribeiro da Silva, dedica-lhe um dos seus sonetos (ver NM 337, de 3/1/1937). // Em 1938 foi agraciado pelo Comando Geral da Legião Portuguesa com a medalha de dedicação «pelos serviços que tem prestado à Legião Portuguesa neste concelho.» E tão bons serviços o professor Abílio prestou que em 1941 o Governador Civil do distrito o escolheu para presidente da Câmara Municipal de Melgaço, lugar que ocupou durante pouco tempo, pois foi demitido por despacho do Ministro do Interior (ver NM 615, de 3/1/1943). Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 623, de 28/2/1943: «A nossa terra é avara nas mercês e raro sabe recompensar os méritos e as dedicações. Alguns vultos mais fora do vulgar se têm destacado no capítulo das benemerências e do amor desinteressado ao concelho e aos progressos da nossa terra, mas a sua passagem pela órbita da direcção, ou do comando, bem depressa é esquecida e – o que é pior! – muitas vezes é apoucada, amesquinhada… Somos bem ingratos!... Desta mentalidade e falta de reconhecimento não está possuído o actual Conselho Municipal que, numa visão justa, oportuna e dignificante, sabe dar o seu a seu dono. Ainda bem! Porque é justíssima vamos transcrever a parte da acta da última sessão do Conselho Municipal em que este presta homenagem à acção do professor Abílio Domingues como presidente que foi da Câmara Municipal.» – Cópia da parte da acta da reunião do Conselho Municipal de 11/2/1943: «… em seguida foi apresentada pelo vogal Dr. João Luís Caldas a seguinte proposta: - que o Conselho Municipal, tendo em subido apreço a actuação do senhor professor Abílio Domingues, durante o tempo em que exerceu as funções de presidente da CMM, actuação essa de todo o ponto de vista dedicada aos interesses do Estado Novo e do público deste concelho, significa-lhe toda a sua consideração como homem público que foi, pois desempenhou as suas funções com grande dedicação, inexcedível aprumo e comprovada honestidade. Propõe um voto de louvor ao senhor professor Abílio Domingues; e, no caso de ser aprovado, se lhe comunique, bem como ao Director do Distrito Escolar, visto ser professor e delegado do mesmo.» A proposta foi aprovada por unanimidade. CMM, 13/2/1943. // E continua o jornalista: «Associamo-nos inteiramente a esta homenagem de justiça a quem tanto se dedicou ao bem do concelho, e ousamos propor que a nossa Câmara siga as mesmas pisadas do Conselho Municipal, fazendo consignar em acta o seu testemunho de louvor à acção do professor Domingues como seu ex-presidente. É uma prova de estímulo que muito contribuirá para o bem do município, afervorando mais aqueles que têm o encargo bem espinhoso de dirigir nesta hora os destinos públicos da nossa terra. Ao professor Abílio Domingues enviamos o nosso abraço de felicitações pela justiça que lhe é prestada.» Ruy de Castro. // A 1/1/1944 casou a sua sobrinha por afinidade Rosa de Jesus Afonso, com Joaquim Covas; Abílio e Leopoldina foram os padrinhos da boda. // Em 1950, e em nome da comissão organizadora da homenagem aos doutores Júlio Esteves, presidente da União Nacional em Melgaço e provedor da SCMM, e Carlos da Rocha, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, comissão essa que promoveu um almoço no Hotel Ranhada, Abílio Domingues botou discurso inflamado e nacionalista, com vivas a Salazar e ao Estado Novo; estava presente o Governador Civil de Viana, o qual presidiu à cerimónia (NM 928, de 26/3/1950). // Em 1956 pediu a transferência e foi colocado numa escola de Braga, tendo sido substituído pelo professor Ascenção Afonso. Nessa cidade morou na Rua Conselheiro Januário, 107. // A 17 de Junho o professorado de Melgaço prestou-lhe «justa homenagem» (NM 1202, de 17/6/1956, e NM 1203, de 24/6/1956). // Era na altura tesoureiro da Santa Casa da Misericórdia. // Em 1958 pôs à venda a sua quinta das Amoras, sita entre São Julião e a Assadura. // Há quem diga ter sido um razoável mestre-escola, mas na década de cinquenta já estava envelhecido e apático. // A sua esposa faleceu em Braga a 15/11/1972 e ele morreu em Vila Praia de Âncora a 25 ou 26/8/1978, quando estava a banhos, mas ambos estão sepultados no cemitério da capital do Minho; ao lado da sua campa jaz a sobrinha por afinidade, Rosa Cândida Afonso (Melgaço, 31/3/1925 – Braga, 21/9/1997), e seu marido, Joaquim Covas (Monção, --/--/19--/ Braga, 26/12/1992), os quais foram seus herdeiros, por os tios não deixarem geração.
 
     /// (*) Era irmã do companheiro da “Maria das Adegas”, Alfredo Afonso, pai do Aristeu, dono durante algum tempo da Discoteca e Restaurante «Pegaso».

 

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