domingo, 31 de dezembro de 2017


GENTES DE MELGAÇO
(Micro biografias)

Por Joaquim A. Rocha


PRADO
 


    O meu amigo e conterrâneo Dr. Valter Alves, no seu blogue «Melgaço, entre o Minho e a Serra», do dia 29/12/2017, sexta-feira, escreve sobre um cerco à fortaleza de Melgaço na década de quarenta do século XIX. Fala no seu governador (militar e civil) mas não menciona, talvez por esquecimento, o seu nome. A sua fonte principal foi o jornal espanhol El Católico, de 13/5/1846. O Dr. Augusto César Esteves, num dos seus ensaios históricos, também aborda esse tema. Eu, não desejando ser indelicado, vou colmatar essa omissão, pois esse tal governador era padrinho da minha avó materna, Maria Libânia Alves (1869-1947). Eis então o nome do dito senhor e das suas duas filhas:
 
 
GAMA, Luís. Filho de Luís Caetano de Sousa Gama, viúvo, capitão-mor do termo de Melgaço, natural de Prado, e de Maria Antónia da Ribera de Peina, solteira, natural de Alveios, Galiza, moradores na Casa e Quinta da Serra, Prado. Neto paterno de Pedro de Sousa Gama e de Maria Teresa de Sousa Salgado; neto materno de Domingos António Lourenço de Peina e de Maria Ventura da Ribera Geraldes. Nasceu em Prado a --/--/1790. // Assentou praça no Regimento de Artilharia de Viana em 1808. // Em princípios de 1809 foi admitido no número dos cadetes do seu regimento (artilharia). // A 16/10/1809, na situação de cadete de artilharia, entrou nas campanhas da Guerra Peninsular. // Depois embarcou para o Rio de Janeiro onde, a 14/5/1818, foi promovido a alferes da 2.ª Companhia de Caçadores, e em Outubro do mesmo ano a tenente. // A 26/2/1821, com mais dez cabecilhas, arrancou para o Rocio as forças do seu comando, com as quais, e com outras, se exigiu de D. João VI o juramento da Constituição. // Por decreto de 13/5/1821 foi nomeado capitão de infantaria e adido do Estado Maior do Rio de Janeiro. // A 26/6/1821 foi agraciado com o hábito de Cristo, cujas insígnias usou desde esse dia até à morte. // Regressou a Portugal, fazendo a sua apresentação no Quartel de São Julião da Torre. // Casou em Lisboa em 1826 com Maria Delfina, filha do “brasileiro” José Correia da Silva, de Vermoim, Famalicão, e de Rosa Grangel do Amaral, brasileira, do Rio de Janeiro, a qual foi dotada pelos pais em oito contos de réis. // Veio com a esposa para Melgaço, mas aqui viveu em sobressalto, devido à guerra civil. A maior parte dos fidalgos melgacences abraçavam a causa de D. Miguel I, estando assim em campos opostos ao dele, que defendia a Carta Constitucional mandada elaborar por D. Pedro IV. Os anos passaram, e a 19/4/1834 pôde enfim aclamar D. Maria II como legítima herdeira ao trono português. // Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço em 1838 e 1839. // Reformou-se em 1843 com a patente de major, passando a adido da Companhia de Veteranos de Valença, sendo então nomeado Governador Militar da Praça de Melgaço, cargo que desempenhou enquanto foi vivo, extinguindo-se com ele. // Morreu a 31/12/1870. // Filhas:              


GAMA, Alexandrina Augusta. Filha de Luís de Sousa Gama e de Maria Delfina do Amaral Correia da Silva. Neta paterna de Luís Caetano de Sousa Gama e de Maria Antónia da Ribera e Peina; neta materna de José Correia da Silva, natural de Vermoim, Famalicão, emigrante no Brasil, e de Rosa Granjel do Amaral, nascida na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu na Casa da Serra, Prado de Melgaço, a 22/3/1825, e foi batizada na igreja de Prado a 25 desse mês e ano. Padrinhos: Alexandre José Picaluga (conselheiro) e sua esposa, Ana Rosa de Abreu, de Lisboa, representados por António de Sousa Gama e por Maria Benedita de Sousa Gama, tios da batizanda. // É provável que tenha feito a 4.ª classe da instrução primária e tenha aprendido na sua adolescência a costurar e a dirigir uma casa. // Casou a 13/2/1848 com Luís Vicente, nascido em 1829, filho de Manuel Inácio Gomes Pinheiro e de Maria Angélica de Araújo Cunha, da Casa da Gaia, tendo ido viver com seu marido para o lugar do Barral. Passados seis anos mudaram a residência para a Quinta da Serra, sita em Prado. // Em 1881 já estavam cansados um do outro: Luís Vicente parte para o Barral de Paderne e ela apresenta no tribunal uma petição pedindo a separação de bens, acusando o marido de fazer vida à parte, gastar o dinheiro mal gasto, e não lhe dar a ela e aos filhos o suficiente para viverem com dignidade. Mais tarde pede a separação de pessoas e bens, alegando ter ele uma amante, já com filhos dele, além disso filha adulterina de seu próprio marido, Luís Vicente! Apesar deste estendal de acusações, em 1882 reconciliaram-se! Era seu advogado José António de Abreu Cunha Araújo. // Alexandrina Augusta faleceu na Casa da Serra a 31/3/1897 e foi sepultada no cemitério da Vila, em jazigo de família. // O seu viúvo passou a morar na Quinta do Barral, onde morreu a 23/5/1902, sendo sepultado ao lado da sua mulher!      


GAMA, Carolina Augusta. Filha de Luís de Sousa Gama, melgacense, e de Maria Delfina do Amaral Correia da Silva, brasileira, moradores na Casa e Quinta da Serra, Prado. Neta paterna de Luís Caetano de Sousa Gama e de Maria Antónia da Ribera, da dita Casa; neta materna de José Correia da Silva, de Vermoim, Vila Nova de Famalicão, e de Rosa Gragel de Amaral, do Rio de Janeiro. Nasceu na Casa da Serra a 22/12/1829 e foi batizada na igreja dois dias depois. Padrinhos: António Augusto Picaluga, de Lisboa (representado por António de Sousa Gama, da Quinta da Serra), e Mafalda Augusta Picaluga, de Lisboa (representada por Maria Benedita de Sousa Gama, da Casa da Serra). // Casou na igreja de Prado a 6/1/1867 com o seu conterrâneo Dr. João Luís de Sousa Palhares, de 33 anos de idade, bacharel formado em Medicina, viúvo de Teresa da Conceição Araújo Cunha. // Moraram no lugar de Ferreiros, Prado, onde ela faleceu a 25/2/1868, grávida de sete meses.           

 
  
 

 
 

 

 

 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

AS ANEDOTAS DO TI JAQUIM
 
Por Joaquim A. Rocha







O presidente de um país da América do Sul, de seu nome Pablo Verde, falou ao telefone com o primeiro-ministro português, dizendo-lhe:

- Ó Cuesta, estou zangado contigo, hombre.

- Porquê, Pablo? Fiz-te algum mal?

- Fizeste e mucho; os meus patrícios estavam à espera do pernil português para esta quadra e ainda não chegou cá; este ano vamos passar um natal mui triste, por causa desse boicote.

- Ó homem, mas que tenho eu a ver com isso? Eu não sou comerciante, nem exportador, sou apenas um simples político.

- E malo político, hombre. Vou encerrar la vuestra embaixada, consulados, tudo; não quero mais conversas com os lusos.

- Ai hombre, que me está dando una cosa; non me faças tal. Eu mando-te todo o pernil que tu quieras, tienes é de esperar algum tiempo, vou mandar matar todos los porcos portugueses, nas ilhas e no continente.

- Cierto, mas rapidamente; nós outros estamos aguardando com ansiedade vuestro pernil, mui bueno, mui apetitoso.

- Bueno, bueno; mas não te esqueças de pagar. Olha que a nossa balança comercial não está de buena salud.

- Vou ter de desligar, Cuesta. Me estan aguardando muchos afazeres. Me manda lo pernil, depois hablamos.

- Adiós, muchacho.

                              *                                              
 

 
- Não queres vir comigo?
- E onde vais tu?
- Vou à Pouparia do Novo Banco.
- Espera lá: como é que vais à Pouparia se não tens dinheiro? Mal ganhas para comer!
- Precisamente por não ter dinheiro é que eu lá vou; se o tivesse gastava-o; como não o tenho, é forçoso poupá-lo!
    
                                                                                  *
 
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha






ROUBOS

 

     Ao longo dos séculos houve sempre ladrões, pessoas sem escrúpulos, parasitas, vivendo à custa do suor alheio. No entanto, e por eu incluir no Dicionário esta rubrica, não se pode daí concluir que em terras de Melgaço houvesse muitos gatunos; havia alguns, entre os quais indivíduos que vinham de outros concelhos, quer portugueses, quer galegos. Praticavam pequenos roubos, devido sobretudo à inexistência de milionários no termo. Muitos dos furtos não serão aqui considerados, como por exemplo roubar fruta na árvore, uvas nas videiras, etc. Os donos dos pomares e das vinhas, ou os seus caseiros, perseguiam os jovens larápios, mas raramente os denunciavam às autoridades.   

 

- PIRES, Francisco António. Filho de Jerónimo José Pires e de Maria Josefa Vaz, moradores no lugar do Govendo. Neto paterno de Francisco José Pires e de Antónia Maria Alves; neto materno de Manuel José Vaz e de Maria Luísa Domingues. Nasceu em Paços a 18/2/1834 e foi batizado na igreja a 20 desse mês e ano. Padrinho: Caetano José da Ribeira, viúvo, do Outeiro. // Era solteiro, lavrador, morava no lugar do Govendo, quando casou a 28/3/1875, com Maria Joaquina, de 20 anos de idade, solteira, lavradora, sua conterrânea, residente no lugar de Sá, filha de Francisco José Pires e de Francisca Rosa Douteiro. Testemunhas: João Douteiro, solteiro, lavrador, residente em Sá, e Luís Douteiro, solteiro, lavrador, residente em Pedreira. // Em 1907 a sua casa de Govendo foi assaltada; roubaram-lhe 5$000 réis e um relógio de plaqué com cadeia de prata. Os ladrões deixaram roupas, e uma carteira com 20$000 réis, talvez devido à fuga (Jornal de Melgaço n.º 690). // No 2.º semestre de 1914 foi jurado pela sua freguesia para as causas-crime, juntamente com Duarte José Rodrigues (Correio de Melgaço n.º 106, de 7/7/1914). // Faleceu a 16/11/1920.
 

- CERDEIRA, Maria Joaquina. Filha de João Luís Cerdeira e de Ana Benedita Gomes Veloso, lavradores. // Era solteira, camponesa, morava em Rouças, fora batizada em Prado, onde nascera a 13/3/1846, quando casou na igreja de Rouças a 6/12/1874 com Manuel, solteiro, lavrador, residente em Queirão, Paderne, onde nascera a 30/5/1843, filho de Francisco Joaquim Pires e de Rosa Pires, rurais, padernenses. // Testemunhas: padre Manuel Caetano Alves e António Caetano de Castro, solteiro, lavrador. // Na noite de 7 para 8/11/1907 os ladrões furtaram-lhe várias peças de roupa branca que estavam a secar na sua propriedade do Rio do Porto. Os patifes não foram descobertos. 

 
   - Em 1912 era pároco da igreja matriz da Vila de Melgaço o padre Manuel José Domingues; alguém assaltou as caixas das esmolas, levando todo o dinheiro que continham (Correio de Melgaço n.º 14, de 8/9/1912).

domingo, 24 de dezembro de 2017

SONETOS DO SOL E DA LUA 
                                                              
                                                                     Por Joaquim A. Rocha






APENAS UM SONHO

 
 

Ontem à noite sonhei com Jesus,

Carregando às costas pesado fardo,

Na cabeça coroa feita de cardo,

Caminhando para a maldita cruz.

 

Seus olhos faiscavam ódio e pus,

Por se sentir como um vil petardo,

Lançado por um imundo bernardo

Às ordens dos infernais belzebus.

 

Pesava toneladas, o madeiro,

O sangue escorria pelas veias,

Sofria em prol da humanidade…

 

Nesse dia, pra ele o derradeiro,

Ouviam-se ao longe as sereias,

E eu cantei hinos à eternidade.



sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO

Por Joaquim A. Rocha





Macróbios

           Esta rubrica poder-se-ia intitular «Morrer em Melgaço nos séculos XIX, XX e XXI». Eu próprio fico admirado como as pessoas que habitam neste concelho atingem idades acima dos noventa anos com a maior facilidade do mundo. Esse fenómeno tem a ver com certeza com a ausência de ansiedade, vive-se ali calmamente, pouca gente, pouca poluição, uma comida saudável, paisagens de sonho, quer no monte quer junto ao rio Minho, enfim, um pequeno paraíso terrestre.  É pena os jovens terem de sair daí a fim de arranjarem emprego nas grandes cidades do país ou no estrangeiro.  

REGUENGO, Maria Benta. Filha de Caetana Esteves Reguengo, solteira, jornaleira. Nasceu em Penso por volta de 1769. // Mendiga (*). // Faleceu a 30/10/1865, em sua casa sita no lugar das Mós, com cerca de 96 anos de idade, viúva de António José de Sousa, tendo perdido o uso da razão, e foi sepultada na igreja paroquial. // Deixou filhos. // (*) Talvez na sua velhice.   

 
REGUENGO, Maria Rita. Filha de Manuel Esteves Reguengo e de Maria Josefa Soares. Nasceu em Penso por volta de 1806. // Lavradeira. // Faleceu no lugar de Barro Pequeno a 22/10/1898, com todos os sacramentos da igreja católica, com 92 anos de idade, no estado de viúva de Manuel Luís Esteves, sem testamento, com filhos, e foi sepultada na igreja. 


REGUENGO, Narciso. Filho de João Esteves Reguengo e de Felipa Esteves, lavradores. Nasceu em Penso por volta de 1769. // Faleceu em sua casa de Lages, a 25/3/1864, com 95 anos de idade, viúvo de Luísa de Caldas, e foi sepultado na igreja paroquial. // Deixou filhos. 

// continua...

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
(LAR PEREIRA DE SOUSA)
 
Por Joaquim A. Rocha


     Para se perceber a origem deste lar é necessário conhecer as duas pessoas que lhe deram origem, ou seja, os dois irmãos nascidos no concelho de Ponte de Lima, província do Minho. Comecemos pelo Dr. António Pereira de Sousa.  Era filho de Custódio Manuel de Sousa, de Labrujó, e de Rosa Pereira, de Vascões, Paredes de Coura, proprietários. Nasceu em Labrujó, Ponte de Lima, por volta de 1850. // Veio para Melgaço em 1877, ano em que terminara o curso de Medicina e Cirurgia na Universidade de Coimbra, a fim de assumir o cargo de facultativo municipal. Em 1896 esteve em Castro Laboreiro e declarou que era urgente tomar providências com o objetivo de extinguir a doença chamada «influenza», que ali grassava. // Em 1897 tornou-se administrador efetivo do concelho de Melgaço, tendo como substituto o Dr. Durães (pai). // Em 1898 pediu a exoneração de cirurgião-ajudante do exército (Valenciano n.º 1835, de 27/2/1898). // Em Junho de 1907 era de novo administrador do concelho, mas logo pediu a demissão (JM 693, de 25/7/1907). // Em 1908 deslocou-se a Viana do Castelo a fim de prestar juramento como administrador do concelho de Melgaço; era na altura Governador Civil do distrito o Dr. Luís Augusto de Amorim, cuja posse lhe tinha sido dada recentemente (Jornal de Melgaço n.º 724). // Tomou posse de administrador a 10/3/1908. // Nesse ano de 1908 era ele o chefe do Partido Progressista em Melgaço e diretor clínico da Empresa das Águas Minerais do Peso (JM 732, de 7/5/1908). // A 19/4/1909 foi padrinho de António Rodrigues, nascido na Vila de Melgaço a 13 desse mês e ano; a madrinha era Maria Joaquina Pires, solteira, proprietária. // Depois de Outubro de 1910 o regime mudou, vieram os republicanos tomar conta do poder, foi demitido de médico municipal pelo presidente da Comissão Administrativa, João Pires Teixeira; ele interpôs recurso à Comissão Distrital, que o reintegrou, recebendo todos os vencimentos em atraso (Correio de Melgaço n.º 74, de 9/11/1913); a partir daí abandonou a política ativa. // No jornal citado, n.º 74, alguém lhe dedicou um poema. // A 1/12/1912 foi nomeado diretor clínico, interino, do hospital da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. // Morreu na sua casa de Eiró de Baixo, freguesia de Rouças, a 17/5/1914, domingo, no estado de solteiro, com 64 anos de idade, e foi sepultado na terça-feira no cemitério público, no jazigo de Emília de Barros Durães (ver Correio de Melgaço n.º 101, de 24/5/1914). // O Dr. António Fânzeres, médico em Paredes de Coura, candidatou-se ao seu lugar, mas não foi escolhido (Correio de Melgaço n.º 106 e 108). O escolhido pela Câmara a 16/7/1914 foi o Dr. Miguel Pereira da Silva Fonseca, de Barcelos, mas penso que não chegou a vir para Melgaço. Finalmente foi substituído, como facultativo, pelo Dr. Germano Augusto Fernandes, de Monção, tomando posse a 23/1/1915; mas, apesar de ter recebido dinheiro da Câmara Municipal, não apareceu ao serviço, deixando-se ficar por Famalicão. Veio depois o Dr. Manuel Pinto de Magalhães, médico em Lousada, o qual foi nomeado pela Câmara Municipal em reunião extraordinária de 24/5/1915. // A Casa e Quinta de Eiró foram por ele e seu irmão Francisco, contador do juízo, casado com Maria Pia Pereira de Castro, da Casa de Galvão, doados à Santa Casa da Misericórdia de Melgaço a fim dali ser instalado um Asilo para pobres, o que veio a acontecer depois de 20/9/1936. Daí chamar-se Lar Pereira de Sousa, em homenagem aos dois irmãos. // Além do Francisco, tinha outro irmão: José António Pereira de Sousa, casado, advogado, residente na Vila dos Arcos de Valdevez. // Nota: embora no seu assento de óbito se diga que morreu solteiro e sem filhos, consta que gerou em Maria Pires, sua empregada, uma criança do sexo masculino, à qual deram o nome de António, mais tarde comerciante na Vila, conhecido por “António Xinto”. Verdade? Mentira?
*

SOUSA, Francisco. Filho de Custódio Manuel de Sousa, de Labrujó, Ponte de Lima, e de Rosa Pereira, de Vascões, Parede de Coura. Nasceu na dita freguesia de Labrujó por volta de 1854. // Veio para Melgaço como contador do juízo de direito. Como tinha aqui o seu irmão médico, Dr. António Pereira de Sousa, por aqui se deixou ficar. // Casou em 1916 (pelo civil na freguesia de Rouças, onde residia, e pelo religioso nos Arcos de Valdevez – ver Correio de Melgaço n.º 210, de 6/8/1916, e n.º 211, de 13/8/1916) com Maria Pia Pereira de Castro, fidalga, da Casa de Galvão. // Morreu a 14/2/1919. // A sua viúva finou-se a 24/11/1935. // Sem geração. // Por terem doado a Casa e Quinta de Eiró de Baixo à SCMM esta, em sua homenagem, deu ao Asilo o nome de “Lar Pereira de Sousa”.    

       Este tema carece de mais investigação. Ainda não sei, por exemplo, quando estes dois irmãos adquiriram a Casa e Quinta de Eiró, Rouças, e a quem. Suponho que pertencia a uma das famílias fidalgas do concelho.














domingo, 17 de dezembro de 2017

ENTRE MORTOS E FERIDOS
(romance histórico)
 
Por Joaquim A. Rocha




15.º capítulo (continuação)


     No que diz respeito à religião poder-se-á afirmar, sem trair a verdade, que o animismo, magia, feiticismo, e o islamismo, predominavam; contudo, começavam já a surgir nas cidades e vilas, sedes de concelho, igrejas católicas. Em Bissau, capital da província, havia uma catedral, com lugar cativo para o Governador e sua esposa. Nela, todos os domingos, se celebrava uma missa especial: um verdadeiro espectáculo – a chegada do bispo, do governador e sua comitiva (na altura em que eu por lá andei exercia esse cargo o general Arnaldo Schutz), a chegada dos burgueses e militares fardados a rigor. Só visto!

- Estava cheia, com certeza…

- A abarrotar. Escusado será dizer-te que a religião professada pela maioria esmagadora da tropa lusa era a católica; no entanto, durante os três anos que passei no serviço militar, sobretudo os dois últimos, cumpridos na Guiné, não encontrei por parte dos meus camaradas um fervor religioso por aí além. Talvez a culpa não fosse deles – a Igreja, quanto a mim, é a grande culpada.

- Mas por quê, se ela tudo faz para atrair a si mais crentes?          

- Vejamos: padres no mato podias procurá-los com uma lupa que não os topavas, e quando se via algum era de metralhadora na mão, mais guerreiro do que ministro de Cristo! Em todo o período que andei pelas matas guineenses apenas vi dois capelães: quase não se distinguiam dos militares de carreira – fardados, galões de oficial, armas bem colocadas nos seus fortes braços, prontos para a luta.

- Custa a crer; mas se o meu amigo o diz…

- Em Cufar, e graças à iniciativa dum colega, de seu nome António, julgo que já fora sacristão, reunimo-nos uns quantos e juntos rezámos. Não resultou! O clima de guerra que então se vivia não era nada propício a este tipo de manifestações. A partir desse dia nunca mais o tentámos. Quando havia um domingo disponível, e nos encontrávamos numa localidade com igreja, aí sim, íamos à missa. Isso aconteceu pouquíssimas vezes.

- Mas por que não ia um pároco ao vosso acampamento rezar missa?!

- Não sei; talvez houvesse poucos e alguns deles tivessem receio de se arriscar – a cidade oferecia maior segurança e mais comodidade.   

     Quando fui para Bissau, e assistindo às missas que lá se realizavam, com aquele cerimonial todo, comecei a afastar-me da Igreja católica – afinal de contas aquela pompa nada tinha a ver connosco: gente humilde, gente do trabalho, cuja simplicidade já fazia parte do nosso ser. Eles pertenciam a outra classe, a um mundo mais requintado, às elites, ao escol nacional!

- O meu amigo está a generalizar: tal como uma Empresa escolhe mal os seus funcionários, ou um clube desportivo compra por um “balúrdio” um jogador que depois se verifica não render na equipa o que dele se esperava, também a Igreja Católica por vezes não tem sorte com os seus curas e bispos. A Empresa pode ir à falência por má gestão; o clube vende esse jogador e adquire outro; a Igreja, porque espalhada por todo o lado, e porque os seus objectivos não são os lucros da primeira, nem as vitórias do segundo, perde aqui, ganha acolá. Graças a esse equilíbrio vai sobrevivendo e com ela a religião para a qual vive. Não se esqueça que na Igreja há gente muito boa…

- De acordo, Rique. Eu nunca afirmei o contrário; porém a crença dos cristãos fica deveras abalada quando se vê que aqueles que têm obrigação de a prestigiar, encaminhar para ela mais fiéis, a distorcem, a reduzem a um circo de vaidades e interesses. O bom exemplo do sacerdote é muito importante para o crente, para o católico em particular. Para mim o verdadeiro prior é aquele que se afasta da política, da guerra e dos vícios. O padre deve ser amigo do branco, do negro, do amarelo, do vermelho, de todos – seja nacional ou estrangeiro. Não pode, nem deve, discriminar, fazer juízos de valor. O que se desvia destes elementares princípios, destes padrões, não passa de um farsante, de um vigarista, de um ímpio!      

- Em parte estou de acordo consigo, mas também penso que o padre é um ser humano, um homem, com todas as fraquezas e defeitos da espécie humana. Por outro lado, a sociedade também os influencia, também os contamina, eles não vivem em nenhuma redoma de vidro. Até os frades e os monges por vezes são atraídos pelas luzes da ribalta, apesar de desejarem a solidão. Claro que se devem retirar da Igreja logo que verifiquem que a sua vocação, o seu espírito, se está a afastar dos princípios que atrás mencionou. Mas, peço-lhe: continue a sua narrativa e deixemos este assunto tão complexo e polémico, senão, daqui a nada, estamos a discutir se as dúvidas de Jean Barois não passavam de um mero exercício de retórica!

*

- À medida que o tempo fenece, a memória, esse silo que tudo armazena e conserva, vai-me traindo; muitos dos eventos já esqueci de todo e outros brotam da minha memória partidos, fragmentados. Lembro-me, isso sim, de factos importantes que deixaram marcas indeléveis no meu subconsciente. Por exemplo, este: uma noite, estando a minha Companhia colocada em Teixeira Pinto, fomos espalhafatosamente acordados. Era o alferes Briosa, cabelos entre o castanho e o loiro, olhos verdes, brilhantes, dentes pequeninos, jovial, prazenteiro, com uma vitalidade fora do comum, que, em altos brados, nos obrigava a saltar da cama e ir imediatamente vestir a farda. Queria-nos prontos a partir para o mato dentro de dez minutos. Na guerra, o soldado está vinte e quatro horas ao dispor do seu amo e senhor.  

     Já na parada, formados, o nosso capitão Fontelas (fora promovido havia pouco tempo) vociferou: «A nossa “excursão” hoje vai ser até um quartel perto de Bula, que neste preciso momento está a ser atacado pelos nossos “amiguinhos” turras. São cerca de quarenta quilómetros daqui lá. Temos, de qualquer modo, daí chegar o mais rápido possível. As estradas são perigosas, de terra batida, e cheias de surpresas. Todo o cuidado é pouco. Não se esqueçam de levar as bengalas de ferro, pois a partir de um certo sítio – isso ser-vos-á indicado oportunamente – terão de ser usadas para detecção de minas. Não se sabe o tempo que vamos demorar e nem o que nos irá suceder, por isso levem água e rações de combate para dois dias.»

     Entrámos para aqueles camiões enormes, revestidos a aço, com bancos corridos, em madeira, que faziam uma barulheira infernal ao arrancar e nos transportavam aos solavancos durante o percurso. À frente da coluna seguia um desses terríveis monstros pré-históricos, cheio de sacos de areia. A sua invulgar alcunha - «rebenta minas» - não poderia ser mais apropriada. Logo atrás rolava o pequeno blindado, o «chaimite», desejoso por mostrar as suas habilidades.

     Seguimos estrada fora. Percorridos uns bons vinte quilómetros mandaram-nos descer dos carros e continuar a pé. A partir daí seria um autêntico suicídio permanecer dentro daquelas viaturas. Os seus motores ruidosos atrairiam inevitavelmente a atenção dos nossos inimigos, pelo que seria preferível e conveniente demorar mais tempo a socorrer os nossos companheiros mas não correr o risco de irmos todos pelos ares.

     O blindado, mais silencioso e maneirinho, passou para a nossa retaguarda. Algumas viaturas iriam regressar a Teixeira Pinto – tinham cumprido a sua missão.

- Tudo bem planeado…

- É verdade. Uns de um lado e outros do outro da “estrada”, lá íamos picando, picando, na ânsia desesperada de descobrirmos os explosivos mortais. Andámos, andámos, quando de repente uma enorme explosão nos atira a metros de distância. Uma mina assassina tinha rebentado ao passar sobre ela quatro gigantescos pneus. O condutor, pois só ele ia nessa altura no carro, ficou sem jeito. Ainda com vida, gemia com dores. O sangue escorria-lhe pela cara abaixo, cobrindo-lhe os olhos, e os seus membros inferiores mais pareciam os de uma boneca: tinha, sem quaisquer dúvidas, as pernas esfrangalhadas, desfeitas!      

     Enquanto o enfermeiro prestava os primeiros socorros ao ferido, pela rádio lançava-se um apelo ao helicóptero para o transportar a Bissau.

     Por precaução, e sabendo-se, ou presumindo, que o inimigo já tomara conhecimento da nossa presença, arriscámos umas bazucadas em várias direcções. Logo depois o perturbador silêncio invadiu todo o espaço à nossa volta, provocando uma sensação de vácuo, de imponderabilidade.

- O helicóptero demorou muito? – perguntou Henrique.    

- O “pássaro voador” tardava a chegar! Afastado do infeliz, não assisti à sua partida. Não sei se sobreviveu aos ferimentos. O ser humano, ao longo da sua existência terreal de milhões de anos, e depois de ter sido afastado violentamente do paraíso, corrido a pontapé pelo deus todo-poderoso, tem resistido a tantas provações que não me surpreenderia se o meu camarada condutor fosse hoje um homem vivo e com saúde. A nossa espécie tem sete fôlegos como o felino!

- E também é frágil como uma avezinha… - observa o jovem, com um sorriso matreiro nos lábios.

- Tens razão. Depois de se ter desviado a viatura do caminho – ou o que dela restava – avançámos lenta mas resolutamente, com mil cuidados redobrados, até a luz do dia de nós se despedir. A noite não é boa conselheira, sobretudo quando nos encontramos em guerra e no mato; o nosso capitão, homem perspicaz e inteligente, sabia isso. Assim, mandou suster a marcha: de madrugada prosseguiríamos. Barriga para baixo, metralhadoras em posição de fogo, lá nos fomos acomodando ao longo do caminho: uns a oeste, outros a este.

- Ficaram na escuridão total…

- Absoluta! Não se via nada, nem ninguém. Contudo, havia sons: animais noturnos faziam ouvir a caraterística voz; a sua passagem, vagarosa, arrastada, pela escura e demoníaca selva, provocava calafrios de terror. As aves da noite chamavam, numa linguagem codificada, o seu companheiro de farra.

// continua...

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha





escritores melgacenses
 
 
    Esta rubrica não vai terminar, pois entretanto surgirão mais escritores  nascidos em Melgaço, sobretudo jovens, apesar deste concelho ter vindo a perder população depois dos anos sessenta do século vinte devido à guerra colonial e à emigração em massa. Lamento que até agora nenhum daqueles que está vivo me tenha contactado a fim de eu divulgar a sua obra. Talvez a timidez, o acanhamento, os tenha impedido de o fazer. Eu estou sempre disponível para os melgacenses. É óbvio que não será a minha análise, o meu parecer, que lhes trará a fama, essa conquista-se ao longo dos anos, publicando os seus escritos, conquistando leitores, e sobretudo os críticos literários, os especialistas em análise textual, cada vez mais raros. A arte literária é tão difícil, tão subtil, como qualquer outra arte: pintura, música, cinema, teatro, etc. O verdadeiro escritor é como o arquiteto, procura tornar o seu trabalho agradável e duradouro. 
    Segue-se uma das mais jovens escritoras melgacenses, cuja data de nascimento ainda não consegui - talvez tenha nascido na década de setenta do século XX. 
                                                       

- Dr.ª Teresa de Jesus Rodrigues. Nasceu na freguesia de Paderne, concelho de Melgaço do Minho, a --/--/19--. // É professora. Em 1997 obteve o grau de Mestre em História Medieval pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Devido à sua juventude, só lhe conheço a seguinte obra: «O Entre Minho e Lima de 1381 a 1514 – antecedentes e evolução da comarca eclesiástica de Valença do Minho». Este livro foi publicado pelo Centro de Estudos Regionais, Viana do Castelo, no ano de 2002. Na Revista de Guimarães (Casa de Sarmento) n.º 106, de 1996, páginas 79 a 93, publicou o artigo «D. Afonso Henriques e o Alto Minho.» E na Revista da Faculdade de Letras do Porto pode ler-se o seu artigo «A Fronteira do Minho nos Finais da Idade Média: aspectos sócio-económicos.» É provável que nos últimos anos tenha publicado outras obras, não sei. 

 


 




 

 

 


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

QUADRAS AO DEUS DARÁ
 
Por Joaquim A. Rocha



carnaval em Melgaço - 2016

                                                                             

A figueira da Peneda

Não sei que diacho tem;

Entalada entre rochas

Dá figos que sabem bem.

*

Dizem que estou tapadão,

Sei que estou, e é por ti;

Perdi a minha razão

No dia em que te vi.

*

Mil carinhos pra dar tenho,

Tanto amor em mim encerro;

Mas quase nada obtenho

Daqueles a quem eu quero.

*

                         Não sei para que nasci,

Por que vim a este mundo;

Onde tudo é frenesi…

Onde o ódio é profundo.
 
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LIVROS PARA VENDA
 
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO, I                                           10.00 euros
                  DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO, II                                          10.00 euros
                  LINA, Filha de Pã (romance)                                                                          10.00 euros
                  OS MEUS SONETOS, e os do frade                                                               10.00 euros
                  OS NOVOS LUSÍADAS                                                                                      11.00 euros
            
      Nota: estes preços já incluem (apenas para Portugal continental) as despesas com o seu envio através dos CTT. Os pedidos deverão ser feitos através do seguinte e-mail: joaquim.a.rocha@sapo.pt